segunda-feira, 29 de março de 2010


QUEM É GINA CARANO?

LAS VEGAS - Gina Carano vive em uma região onde todas as casas são parecidas. Como companhia, ela aguenta dois pitbulls e um bandido condenado. Ela não frequenta boates, mantém poucas amizades e dirige um Impala fedido. Ela nunca terminou a faculdade. Ela nunca ouviu falar de Chuck Berry. Em conversas, ela assume que você nunca ouviu falar dela.

Ainda que a austeridade seja frequente na vida de jovens lutadores, Carano conquistou uma fama que inspira editoriais de revista, concursos de popularidade online e até mesmo rumores maldosos sobre um vídeo de sexo. Aos 27 anos, ela se tornou a face do vale-tudo para mulheres, lutando para chegar à respeitabilidade em um esporte dominado por homens que ainda não foi aceito pelo grande cenário esportivo.

"Eu acho que qualquer pessoa teria perdido a cabeça muito tempo atrás, especialmente alguém que não gosta de estar sob os holofotes", disse Kevin Ross, amigo que apresentou Carano aos esportes de combate. "Ela é uma pessoa muito reservada".

Com uma carreira construída com uma participação em um reality show e uma passagem pelo programa "American Gladiators", Carano se tornou uma figura símbolo em um momento importante para seu esporte, retratada como parte sufragista, parte cobaia, parte estratagema de marketing e parte celebridade.

Dentro da gaiola onde as concorrentes misturam técnicas como kickboxing, luta livre e jiu-jitsu de maneira proibida em Nova York por sua brutalidade, Carano demonstra disciplina, resistência e golpes poderosos. Os promotores a chamam de Conviction (Convicção, em tradução literal).

No ano passado, durante as eliminatórias da primeira transmissão de um evento de vale-tudo no horário nobre da televisão, ela superou lutadores masculinos cujos golpes pareciam exagerados, anticlimáticos e possivelmente até mesmo ensaiados.

Por causa daquela performance, ela foi recrutada para participar de um programa da rede Showtime no dia 15 de agosto, com lutadores masculinos na eliminatória. Em materiais de publicidade que fazem referência a sua beleza, os promotores não prometem nada menos do que "uma das lutas mais esperadas de todos os tempos".

No Pavilhão da HP em San José, Califórnia, Carano (7 -0) enfrentará Cristiane Santos, do Brasil (7 -1), que é conhecida como Ciborgue e cujas habilidades de agarramento são conhecidas por um agressivo talento de improvisação. Em um vídeo publicado online, Santos demonstrou seu enforcamento em um entrevistador que foi surpreendido ou é um ótimo ator. Por cinco rounds de luta na gaiola, Carano e Santos dividirão um cachê de US$ 200 mil. A vencedora ganhará o título da nova categoria para mulheres de 145 libras (cerca de 70 kg).

A principal liga de vale-tudo, conhecida como Ultimate Fighting Championship, não se interessou na luta. Seu presidente, Dana White, interrompeu negociações com Carano depois de concluir que poucos talentos foram desenvolvidos para que haja interesse em uma divisão feminina, de acordo com um porta-voz.

Isso abriu espaço para uma nova série, intitulada Strikeforce, que promove a luta como parte de seu esforço em ganhar algum poder no crescente mercado de vale-tudo. Com graus variados de sucesso, outras ligas buscam se destacar como a Central e a Hispânica. A Strikeforce aposta nas mulheres.

“Eu acho que elas são capazes de entreter de maneira entusiasmante e competitiva", disse Mike Afromowitz, porta-voz da Strikeforce. “É isto que precisamos e é isto que as lutas precisam para que as mulheres conquistem mais espaço na gaiola".

Lutar por quê?

Em uma entrevista em um restaurante perto de sua casa, Carano relembra a curiosidade de uma educação religiosa rígida em Las Vegas. Ela foi colocada em uma escola particular não longe da região onde boates oferecem strip-tease. Dia das Bruxas era proibido. Sua família chegou a abandonar o cinema onde foi assistir "Forrest Gump" por causa da linguagem pecadora do filme. Suas irmãs pareciam tão facilmente magras e bonitas, até que o mais velho arrastou a família por uma via crucis das drogas.

Matriculada em psicologia na Universidade de Nevada, Carano tinha 15 kg a mais do que o considerado necessário, nenhum rumo, estava quase perdida para as bebidas e por paquerar o namorado de outras meninas quando um amigo instrutor de muay thai resolve dizer que sua vida estava uma bagunça. Assim, a igreja da redenção esportiva ganhou outra alma perdida.

"Eu só respondo a Deus, às vezes minha família, às vezes não, e luto", disse Carano. "Nenhum relacionamento, nenhum namorado, nenhuma amiga, só isso me mantém concentrada".

Com o tempo, ela viajou o mundo fazendo lutas na Tailândia e acalmando parentes preocupados. Depois de um tempo ela começou a ganhar dinheiro. E em seguida ela desenvolveu um senso de missão.

"Eu quero que seja mais fácil para que outras mulheres entrem em uma academia para lutar, porque isso mudou minha vida", ela disse.

"Eu moro em Las Vegas onde é difícil conhecer um cavalheiro que não pense que você faz strip-tease ou é um pedaço de carne. Eu gosto do treinamento e do estilo de vida. Eu consigo acordar e me concentrar em mim mesma e em ser melhor. Todo o drama some quando você tem que pensar em alguém lhe dando um soco ou arrancando sua cabeça".

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