sábado, 25 de setembro de 2010

PREPARAÇÃO MENTAL NOS ESPORTES DE COMBATE

Um cliché muito utilizado é que a actividade desportiva é 10% física e 90% mental. Pessoalmente acho esta estatística exagerada, e certamente não existirá uma forma fiável de podermos medir a importância relativa dos dois factores. Mas arrisco a dizer que a condição mental e a condição física se encontram intrinsecamente ligadas, fazendo um elemento único fundamental para a boa performance.

Pesquisas efectuadas com atletas de nível olímpico e outros atletas de elite, mostram-nos que os factores psicológicos aumentam o seu grau de importância na performance à medida que o nível do atleta vai evoluindo e a exigência competitiva aumenta. A grande maioria dos atletas passa a grande parte do seu tempo, se não a totalidade, a treinar os aspectos físicos em detrimento dos aspectos mentais. É importante referir, especialmente para atletas lutadores que o desenvolvimento dos aspectos físicos atinge um pico de evolução mais prematuramente que o condicionamento mental. Todos já experienciámos combates ou lutas em que fisicamente os oponentes estão com níveis de desenvolvimento físico idênticos, mas com performances desportivas em competição muito distintas.
Então, Isto deve-se a que factor?

Certamente a níveis de desenvolvimento ou preparação mental também distintos. Existirá sem dúvida diferenças muito significativas na abordagem competitiva, ao nível da confiança, concentração, impetuosidade e tenacidade mental.

As diferenças serão ainda mais significativas para quem treina de forma comprometida com a competição e quem treina por diversão e gozo. As características entre estes dois tipos de praticantes serão também elas bastantes significativas. Mas em que aspecto? À partida que características saltarão mais à vista? Acredito que muitos dos atletas que fazem apenas por gozo, estejam em plenas condições físicas para combater! Mas com que nível de eficácia? É que para aumentar os níveis de eficácia de movimentos explosivos e precisos, um conjunto de características mentais têm forçosamente que dar suporte a toda a parte física e técnica.

A psicologia desportiva aplica métodos e princípios que permitem aumentar o rendimento e a performance dos atletas, que efectivamente queiram melhoram e se sintam motivados para cumprirem uma auto-disciplina mental rigorosa. A implementação de um programa de treino mental ao treino físico, não funciona como magia, nem é isso que se pretende. O objectivo principal é fornecer e ensinar um conjunto de estratégias mentais que potenciem o treino desportivo (capacidades já existentes), assim como poder implementar outras que possam não fazer parte do reportório do atleta. Estas estratégias pressupõem a eliminação de algumas barreiras ou dificuldades que o atleta possa apresentar e se verifiquem ser um impedimento ao seu progresso, assim como implementar outras que projectem o atleta para um nível competitivo superior.

Aquilo que os atletas de esportes de combate, citando apenas alguns (Karate, Judo, Jujitsu, Aikido, Iaido, Kobudo, TaeKwondo, Kung Fu, Capoeira, Sumo, Boxe, Muay Thai, Kickboxing) devem entender sobre a importância do treino mental, é que existem um conjunto de intervenções que já provaram quer em investigações quer no próprio local de combate, serem de grande importância para a melhoria do rendimento. Não serão as mesmas para todos os atletas, tal como o treino físico não será igual para todos. Se você explicar e ensinar uma “chave de braço” a um atleta noviço, provavelmente não esperará que ele o execute na perfeição depois de apenas uma lição. Os lutadores facilmente percebem o porquê desta situação, é que são precisas muitas horas de treino físico para se chegar a eficácia de uma técnica. Mas na grande maioria das vezes assumem que as estratégias mentais ou que o treino mental, como a concentração, o controlo dos níveis de activação e excitação, o foco atencional, a gestão da ansiedade ou a tenacidade mental, deverão ocorrer naturalmente, ou que não podem ser aprendidas. Isto é um erro. As estratégias mentais podem ser aprendidas, mas para chegarem ao nível de serem eficazes requerem prática, tal como o treino físico.

Ao nível mais básico existem 3 estratégias que fazem parte das componentes dos esportes de combate que são afectadas e influenciadas pelos factores psicológicos. Você pode melhorar todas elas: Pensamentos (cognições); Sentimentos (emoções) e físicas (somáticas). Cada uma destas componentes afectas as outras de diversas formas e em situações diferentes. Um pensamento comum é: “O que é que acontece se eu perder?” “A minha família e os meus fãs estão aqui, eu irei deixá-los desiludidos e sentir-me-ei humilhado”. Este tipo de pensamento pode ser muito incapacitante e causa certamente de forma imediata sentimentos de nervosismo, ansiedades e dúvida. Nesse exacto momento o atleta irá sentir sensações físicas, como perda momentaneamente de energia, batimento cardíaco acelerado, hiperventilação ou náuseas. Mas este ciclo sabotador não termina aqui, a mente do atleta irá interpretar os sintomas físicos experienciados como um sinal de que o seu corpo está em perigo ou com problemas, não lhe transmitindo sensações de capacidade e eficácia. O atleta começa a pensar: “oh meu Deus, estou tramado”. “eu vou “morrer” aqui mesmo”. Isto como é óbvio ampliará ainda mais a ansiedade, o medo e a fraqueza sentida, o que fará com que o seu corpo continue a reagir de forma negativa, entrando numa espiral da desgraça, ficando o atleta numa situação bastante crítica. Se pretende melhorar alguns destes aspectos leia o artigo que escrevi sobre este tema: 8 regras para criar pensamentos capacitadores.

Este ciclo incapacitante não tem necessariamente de começar com um pensamento, pode começar igualmente com um sentimento, talvez de falta de confiança, ou uma sensação física, como borboletas no estômago. Se este ciclo não for identificado e inibido, pode ganhar vida própria e controlar por completo a performance do atleta. Então perante um cenário deste tipo o que pode o atleta fazer? Tal como na estratégia de luta – o atleta deverá preparar-se para o que poderá acontecer em competição e construir um conjunto de habilidades para responder de forma eficaz em situações de pressão. A intervenção dos psicólogos do esporte assim como a implementação de um programa de preparação mental no treino tem por objectivo o desenvolvimento do controlo dos seus pensamentos, sentimentos e corpo, perante a pressão do adversário. Em competição, o atleta irá saber como direccionar todo este processo, ao invés de apenas reagir, na grande maioria das vezes de forma desadequada afectando-lhe o rendimento. Um bom lutador nunca entra no ringue ou na arena, sem se ter treinado e a pensar “vou ver se ele ataca e se…, por isso vou tentar de alguma forma contra-atacar. Um bom lutador prepara-se de forma rigorosa e exaustiva, desenvolvendo planos para tantos cenários quanto possível, e desenvolvendo as habilidades necessárias para conseguir executar esses planos antes de entrar em competição. As estratégias mentais ou psicológicas não requerem menos preparação nem menos atenção do que todos os outros aspectos do condicionamento físico.

Como é que o atleta pode trabalhar e resolver o problema?

Usando a teoria que apelido de: Estados incompatíveis entre si. Passo a explicar, quando o atleta direcciona intencionalmente os seus pensamentos, emoções e acções motoras, coloca-se num estado de grande capacidade (Zona Óptima de Funcionamento), ficando muito menos vulnerável à influência negativa induzida pela atitude que adopta quando apenas reage ao seu adversário. Estrategicamente é como mudar o ritmo de ataque ou transmitir uma atitude de, “ estou aqui para aplicar a minha luta”. Se o atleta estiver activamente envolvido com as suas auto-verbalizações positivas e capacitadores, é praticamente impossível simultaneamente estar a ter pensamentos derrotistas. Se o atleta se sentir confiante é muito difícil em simultâneo sentir-se ansioso. Estes estados são incompatíveis entre si. Se o atleta estiver num estado de relaxamento, não consegue simultaneamente estar tenso. As três componentes anteriormente referidas, encontram-se inter-relacionadas, se o atleta tiver um controlo positivo sobre uma, irá automaticamente influenciar as outras, seja para um estado de capacidade ou um de derrota. Nos programas de preparação mental que aplico, utilizo uma expressão com os atletas que expressa o que aqui descrevi: “o corpo está à escuta da mente.” Tudo o que dizemos e sentimos tem um reflexo nas nossas acções, será tanto mais capacitador quanto melhor forem as indicações intencionais dadas a si próprio por parte do atleta.

AUTO-MONITORIZAÇÃO DAS HABILIDADES

Se um dos objectivos do lutador é ter controlo sobre os seus pensamentos, emoções e estado físico, terá que inicialmente aprender a estar consciente disso. O lutador terá de perceber como é que cada uma destas componentes funciona, antes de as poder mudar de forma eficaz e vantajosa. Terá ainda de perceber as estratégias que melhor funcionam ou podem vir a funcionar, assim como aquilo que deverá alterar ou implementar para que possa melhorar o seu rendimento, e acima de tudo que consiga perante a exigência da competição expressar tudo o que adquiriu em treino para que consiga alcançar um grande desempenho.
Existem algumas formas de o poder fazer. Apresento em seguida um conjunto de perguntas em formato de questionário, não existem respostas certas nem erradas, mas sim o que o atleta pensa ser aquilo que acontece com ele.

O atleta necessita de identificar a forma como pensa, sente e se comporta para ter o seu melhor desempenho. Depois precisa identificar o que fazer para se colocar no seu estado mental ideal para competir (o que necessita fazer para “carregar” o seu modo competitivo). Para que o possa ajudar neste processo precisa tentar recordar algumas competições passadas.
Responda às questões que se seguem para que o ajudem a construir o estado mental competitivo que funciona para si.

Pense numa das suas melhores competições no último ano e responda ao seguinte:

* 1- Como é que se sentiu minutos antes do combate?
Nada activado (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) muito activado
Nada preocupado /sem medo (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) extremamente preocupado

* 2- O que é que estava a dizer ou a pensar para si minutos antes de iniciar o combate?
* 3- Como é que foi a sua concentração durante a competição? Em que é que prestou atenção durante a competição?

Agora, pense numa das suas piores competições no último ano e responda ao seguinte:

* 4- Como é que se sentiu minutos antes do combate?
Nada activado (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) muito activado
Nada preocupado / sem medo (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) extremamente preocupado

* 5- O que é que estava a dizer ou a pensar para si minutos antes de iniciar o combate?
* 6- Como é que foi a sua concentração durante a competição? Em que é que prestou atenção durante a competição?

* 7- Quais são as diferenças que encontra relativamente aos seus níveis de energia e aos seus pensamentos antes destas duas competições? E na sua concentração e atenção?

Faça uma revisão das suas respostas. Em particular, nas diferenças que encontrou entre os seus pensamentos, concentração e níveis de energia antes da sua melhor competição comparativamente com a pior. Como é que você prefere pensar/ sentir antes de competir? Em que é que prefere concentrar-se antes e durante a competição? Com estas “coisas” em mente, tente agora perceber e/ou construir um conjunto de estratégias que o ajudem a alcançar o seu estado mental óptimo. Por exemplo, se para se sentires bem e a competição lhe correr bem tem de se colocar num estado intenso e agressivo, tente identificar algumas coisas em que pensa, diz, e faz que o ajudam a ficar nesse estado. Ou se fica demasiado ansioso ou nervoso quando pensa sobre a competição, tente perceber o que é que faz para se distrair antes da competição (ouvir música, falar com os amigos, estar sozinho, ver os combates dos adversários, etc.)

* 8- Antes de você competir o seu estado mental óptimo consiste em:

* 9- Estratégias que o ajudam a atingir o seu estado mental óptimo incluem:

O objectivo do exercício proposto pretende que o atleta tome consciência do conjunto de estratégias que possam funcionar para potenciar o seu rendimento desportivo. Tomar consciência do corpo, dos pensamentos, aquilo que pensa e como pensa, e aquilo que sente em diferentes fases da sua preparação. A capacidade de auto-monitorização pode ser aprendida com a prática. O atleta pode começar a monitorizar e a registar todas estas coisas durante o treino de forma a que descubra alguns gatilhos ou pistas relevantes que melhorem a performance. O atleta pode criar um diário de registo em que de forma resumida possa tomar alguns apontamentos depois do treino descrever os seus pensamentos, sentimentos e estados físicos que ocorreram, como você respondeu, e como eles afectaram o seu desempenho. O auto-conhecimento vai ajudar o atleta a identificar os estados psicológicos positivos que pode criar, desenvolver, construir e reconhecer os pensamentos negativos, sentimentos e estados que podem interferir com o seu desempenho, para que possa desenvolver um plano para corrigi-los.

Fonte: http://www.escolapsicologia.com

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

HOSHIN SOOL - A IMPORTANCIA DA RECEPÇÃO DE UM GOLPE




No treinamento de ho shin sool ( defesa pessoal ) existe o atacante ( ou agressor ) , que é aquele que promove um ataque. E o defensor ( ou agredido) , que absorve ou recebe os ataques.

O atacante ( agressor) , que executa a pegada ou ataque propriamente dito , deve ser sincero na intenção , respeitando tanto os limites quanto o potencial do seu parceiro ( defensor).
Ele deve harmonizar-se com a técnica de defesa, acompanhando de modo relexado e caindo com suavidade.

O defensor ( agredido) , é aquele que recebe os ataques no treino. Procura vencer a si mesmo e nunca ao outro, busca se defender do modo mais eficiente sem que alguém seja ferido, pretende harmonizar com o movimento e não saber se pode ou não derrotar seu semelhante.


O Atacante é a pedra de amolar.
Nela o defensor vai afiar sua técnica ( lâmina).
Se a pedra for tosca e irregular , o fio se tornará dentado e quebradiço.
Se a pedra for lisa e polida, o fio se tornará cortante e confiável.



“ texto adaptado e extraído do livro – Aikido , ténica e filosofia de Ernesto Cohn “