sábado, 27 de março de 2010


AS MULHERES NO VALE TUDO O vale-tudo deixou de ser um esporte tipicamente masculino. Nos últimos cinco anos, mestres na arte marcial que reúne técnicas e regras de várias lutas têm acompanhado o aumento do interesse feminino pelo esporte. Estimativas de quem está no ramo há décadas dão conta de que o número de mulheres que querem praticar a luta dobrou entre 2004 e 2009. Atletas e treinadores chegam a falar em três a quatro vezes mais interessadas. Mas o preconceito continua. As atletas recebem bonificações inferiores às dos homens por disputa e sofrem para encontrar campeonatos nacionais abertos aos combates. "E olha que as nossas lutas dão muita audiência", lembra a capixaba Carina Damm, 30 anos, considerada uma das melhores do mundo na atualidade. Apesar das dificuldades, o cenário está melhorando para as lutadoras brasileiras. Nos Estados Unidos e no Japão, onde o esporte está mais desenvolvido, as disputas entre mulheres são transmitidas em TV aberta e atraem audiências que superam o boxe. "Há três anos era quase impossível encontrar outra parceira para lutar", lembra Carina. "Agora até no Espírito Santo já são muitas meninas treinando", afirma ela, que venceu 11 das 14 disputas nacionais e internacionais das quais participou. Para se tornar um atleta de valetudo, é necessário passar antes pelos níveis mais altos de esportes, como jiu-jítsu, muay thai, capoeira, boxe e wrestling, este último usado basicamente para derrubar o oponente e levar a luta para o chão. O nome do esporte em inglês é esclarecedor: MMA, sigla para Mixed Martial Arts, ou Mistura de Artes Marciais. Como se o esforço para treinar tantas técnicas já não fosse suficiente, a mulher ainda precisa lidar com a reprovação de alguns. "Um promotor de combates riu de mim quando eu disse que queria lutar", lembra Carina. O organizador teria dito que ela se sairia melhor como garota da placa, anunciando novos rounds. A censura também pode vir da família. Priscila Hamada, 24 anos, encontrou resistência da mãe e da avó quando decidiu largar a recém-iniciada carreira de administradora de empresas em São Carlos, interior de São Paulo, para vir para a capital se dedicar ao vale-tudo. "Elas tinham medo que eu me machucasse", justifica. É uma preocupação razoável. Tradicionalmente, uma luta começa com as atletas de pé, com socos, chutes e cotoveladas - golpes treinados pelo boxe, muay thai e capoeira. Se nenhuma das duas cair, o combate evolui para o contato físico mais próximo, em que o wrestling entra como meio de derrubar a oponente. Uma vez no chão, recorre-se ao jiu-jítsu. "Quase todo dia estou com olho roxo", conta Ana Maria Soares, 30 anos, conhecida como "Índia" por trançar os cabelos para as lutas. "Uma vez um senhor me abordou no elevador e perguntou: 'Minha filha, você já ouviu falar da Lei Maria da Penha?", conta a baiana, entre risadas, sobre a lei de 2006 que aumentou a pena para os agressores de mulheres. "Mas lidar com a desconfiança dos outros faz parte do trabalho." Segundo Rudimar Fedrigo, há 30 anos treinador da academia curitibana Chute Boxe, as brasileiras do valetudo estão cada vez mais profissionais. E as vitórias no Exterior são prova disso. O marco mais recente foi a conquista de Cristiane Santos, conhecida como Cris Cyborg, no sábado 11. Em três rounds pelo campeonato Strikeforce, nos Estados Unidos, Cris venceu por nocaute técnico. "Ela saiu consagrada de um ginásio com mais de 20 mil espectadores", conta Fedrigo, técnico dela. Agora, a atleta se prepara para um embate, em agosto, com a americana Gina Carano, considerada a melhor do mundo. É em exemplos como os de Cris e Ana Maria "Índia", além dos ídolos homens, que atletas como a iniciante Luísa da Costa, da equipe Checkmat, se espelha. Lutadora de jiu-jítsu, ela treina para chegar à faixa preta e começar a transição para o vale-tudo. Carioca, 20 anos, Luísa se mudou para São Paulo para treinar jiu-jítsu. "Antes diziam que esse esporte era coisa de mulher-macho, mas agora já aceitam mais", diz ela, que já é faixa roxa. Para Sérgio Batarelli, presidente da Confederação Brasileira de Lutas Vale- Tudo, estabelecer regras claras para todos os campeonatos é um dos caminhos para facilitar o reconhecimento do esporte. "Hoje, só metade de todas as disputas de vale-tudo no Brasil pede apoio da confederação", afirma. Com o tempo, ele espera que o regulamento da entidade seja usado por todos. "O esporte só tem a ganhar com isso." E as plateias só a aumentar.

FONTE: Forum Portal do Vale Tudo

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